quarta-feira, 5 de maio de 2010

Não julgue


Então, antes de voltar para o trabalho passei na academia pagar minha mensalidade. Obviamente que encontrei colegas em comum e conversa vai e vem, me chamou atenção um menino, que ”desesperadamente” corria em uma esteira, corria fora do normal e parava repentinamente. De repente começava de novo, o som do impacto do seu tênis no chão deixava claro sua falta de técnica para corrida. E lá ia o rapaz correr de novo, pensei comigo: “Que pretende será? Quer mostrar o que?”
Uma vez que os nobres internautas devem estar cientes que academias são providas de desfiles de moda, bombados, tênis, fricotes, “pavões” e “pavoas” que estão em continua competição para ver quem aparece mais. Blargh, acabei tirando conclusões precipitadas.
Quando o rapaz começou desesperadamente a correr de novo com as mãos fixadas no suporte da esteira (que não é o correto), a dona da academia foi até ele acompanhar, e eu curiosa, fui também, perguntei: “Qual o plano aí? Cuidado para não cair..”, e fui em direção a recepção, a dona da academia rindo, foi me contar que este rapaz estava fazendo um teste para “coletor de lixo”. É, coletor de lixo, caiu minha face no chão. Perguntei: “Mas porque esse excesso de velocidade?”
E ela me contou que é a exigência da empresa de coleta de lixo urbano, no mínimo correr a 14 km/h (sou freqüentadora de pistas e academia, meu limite é 10km/h e fico completamente desgastada). Contou-me mais ainda, que a maioria não tem preparo, mas quase sempre passam. (É o objetivo desesperado de conseguir o digno e sacrificante emprego)
Putz, não gosto dessa palavrinha, mas hoje eu mereço. Quanta exigência, tem que ser um atleta para ser coletor de lixo, submeter-se ao trabalho pesado e ganhar pouco, eis a lição, logo eu que odeio pré-julgamentos, cometi um, e ridículo. A história não parou por aí, me senti péssima, não era meu horário mas fiquei na academia até o rapaz acabar o teste. Quando saiu da esteira, o chamei. Ele estranhou, veio todo sem jeito.
“Iverson (nome fictício) quando sai sua resposta de admissão?” perguntei.
Ele todo sem jeito disse: “Na-não sei, a-acho que a-a-amanhã..”
Outra bordoada em mim, em umas nove sílabas percebi a simplicidade e humildade do menino, não tinha nada haver com os “pavões” de academia. Putz, de novo. Respirei, e humildemente pedi desculpas a ele, falei que por um momento fiquei a pensar qual era o objetivo desesperado dele em cima daquela esteira, registrei meus votos de sucesso na vida e para que ele conquiste seus objetivos. Ele agradeceu e foi embora. A Dona da academia tinha ouvido a minha conversa com ele, falou que eu não devia me preocupar, e que provavelmente, ele nem entendeu minha preocupação, e meu pedido de desculpas.
Disse ela: “Maioria sem estudo Patrícia, não se preocupe..”.
Eu disse: “Preocupo-me, não posso salvar todos os coletores de lixo do mundo, mas esse menino, caso você saiba que ele não foi admitido, me informe por favor.”
Pensei, não sei se de forma certa ou errada, mas ajudá-lo será uma maneira de corrigir ou pagar pelo meu erro. Lição: quem comete tolices assim, pare, elimine pré-julgamentos da sua vida. Vivendo e aprendendo, afinal sou humana, não perfeita. Mais um aprendizado hoje.

3 comentários:

Marcelo de C. Teixeira disse...

Oi Patrícia

Que lição.
Fiquei pensativo também pois sou "rato" de academia e concordo que existe um verdadeiro desfile nas academias.
E realmente, esta história me comoveu muito.
Espero que o rapaz tenha sido aprovado.
Abs
Marcelo

Patrícia Ecave . disse...

Ele foi encaminhado =)

Unknown disse...

como ele existem muitos, e na maioria nem podem freqüentar academias, mas não se culpe, somos imperfeitos, e não dar valor ao inesperado é humano.faço parte de uma maioria que faz coisas nem sempre compreensíveis aos olhos alheios, mas é a lei da sobrevivência.
Mas somente os que tem caráter reconhecem seus erros, vc tem bom coração isso te faz especial aos olhos de Deus.
bjs.
gizelle